“Vamos onde tivermos de ir, mas voltaremos sempre a Parada, no fim do dia ou no fim de tudo”

Nas próximas edições do Jornal “A Voz de Melgaço” visitaremos as Freguesias do concelho de Melgaço que tenham dinâmica empresarial referenciável. Esta rubrica pretende dar a conhecer a dimensão empreendedora dos melgacenses que trabalham por cá todos os dias, mas também auscultar os empresários que o tornam possível.

Começamos em Parada do Monte, um caso que reúne uma dinâmica acima da média, sobretudo pelas particularidades que, numa primeira análise, não consideraríamos a primeira escolha dos empresários, formatados que estamos ao conceito de que alguns sectores de trabalho funcionam melhor em Áreas Industriais desenhadas para o efeito.
Parada do Monte não cumpre esse requisito, nem os outros que colocaríamos em lista. É um território na área de montanha que, apesar de acessibilidades e relativamente próximo do centro urbano do concelho, é servido por uma estrada relativamente estreita que certamente restringirá o acesso aos camiões de carga de maior dimensão. Ainda assim, tem nove empresas/empresários dos mais diversos sectores de produção e uma instituição de apoio social que presta serviço às freguesias de montanha do concelho.

Carpintaria, construção, criação de gado, comércio, panificação, Parada do Monte é um género de mini-vila industrial onde a cada légua se descobre um armazém de materiais de construção, de madeira ou outras e onde se vê de facto gente a passar na rua num tempo em que, fora dos centros nevrálgicos dos concelhos, é mais comum o transeunte cruzar-se com cães ou gatos ao atravessar aldeias de portas fechadas.

Acompanhe-nos nesta viagem e se tiver ou souber de uma empresa na sua freguesia que entenda enquadrar-se, envie-nos um e-mail para: redacao@vozdemelgaco.pt.  

Construção: Construções Fonte do Paço

Começou por ser um negócio de família, mas no ano 2000, três irmãos e um primo criaram uma estrutura e base própria para a vocação familiar. A empresa Construções Fonte do Paço tem na linha da frente quatro sócios, Alberto Afonso, Paulo Afonso, Carlos Afonso e José Luís Domingues, que assumem ter em Parada do Monte a sua melhor escolha.

São nove trabalhadores em permanência, preparados para trabalhar com os vários materiais do ramo da construção e assumem ter sempre trabalho para todos os colaboradores, sem ser necessário ir para muito longe, imagine-se. “O máximo que já teremos ido trabalhar talvez tenha disso ao Porto, de resto o nosso maior trabalho é em Parada do Monte e freguesias vizinhas” diz-nos Alberto Afonso, um dos sócios.

A base de trabalho foi conseguida com trabalho, literalmente. “Foi no andamento da nossa vida, sempre. Nascemos, fomos criados cá, andamos aqui na escola. Eu saí da escola no 6º ano e fui trabalhar com o meu pai. Quando voltei à escola para completar o 12º ano já era trabalhador estudante, estudava à noite. Quando acabei já tinha 30 anos, já tinha casado”, recorda ainda Alberto Afonso.

Hoje tem um armazém de 1200 metros quadrados, edificado há oito anos. Até ali “o armazém era na garagem de cada um”. E o que faz uma empresa de construção de edifícios que assume ter apenas como maiores clientes as freguesias de montanha? “Só nos temos dedicado a reconstruções, remodelações e ampliações. Também porque a nossa firma tem uma particularidade que se calhar muitas outras não tem: Nós fazemos tudo, até colocamos móveis. Temos pessoal da casa para as áreas todas. Se pegássemos só numa área, teríamos de alargar a área de actuação”.

E construções novas, até que ponto se aventuram os novos investidores? “Desde 2000, a primeira habitação que construímos de raiz foi o ano passado, ainda nem está acabada e é na vila. Aqui na freguesia, de raiz, nunca fizemos nenhuma”, diz-nos Alberto Afonso.

Já recusaram propostas para aumentar a dimensão noutro lugar, foram ficando por ali. A única proposta que aceitaram foi tornarem-se parceiros da multinacional de origem francesa Saint-Gobain no projecto CASA, sendo uma das empresas da rede nacional de prestadores de serviços, que actuam na área da construção civil, nomeadamente em obras de reabilitação e reconstrução.

“Temos estado a crescer todos os anos um bocadinho, mas com solidez. E nunca a localização geográfica foi impedimento. Gostamos muito da nossa terra. Eu só por uma catástrofe sairia daqui. Todos os anos vou quinze dias de férias, mas ao fim desse tempo já tenho saudades de casa”, confessa Alberto Afonso.

“O nosso maior problema aqui é mesmo as comunicações. Estamos servidos de internet e telemóvel, mas de qualidade baixa. A nossa rede de comunicações é limitada a um operador, o que nos obriga a ter que estar fidelizados a ele. E mesmo assim, no passado mês de Agosto foi caótico. A antena que nos serve bloqueou durante o dia. Era impossível, dados móveis durante o dia eram para esquecer. Talvez tivesse tido uma sobrecarga. Aqui na empresa não sentimos isso porque a internet é cabo. Não é fibra, o que achamos que devia haver”, aponta ainda o empresário, que tem ainda a dificuldade em arranjar mão-de-obra minimamente especializada, se tiver de alargar a equipa de colaboradores. “Arranjar mão-de-obra para o modelo de negócio que temos não é fácil”.

Com um volume de negócios na ordem dos 400 mil euros, fruto de um trabalho ponderado e de um crescimento sólido, dizem que crescer agora era um exercício complicado, por obrigar a procurar colaboradores fora do seu círculo de acção. “Teríamos de repensar a forma de o fazer”.

Criação de Gado: Manuel Afonso (Cerdeirinha)

Finda a quarta classe, Manuel Afonso, integrou com naturalidade o negócio que o seu pai lhe passava pela experiência: A compra, venda e criação de gado. Dos 10 aos 17 anos de idade chegou a comprar e vender gado sozinho. Aos 17 foi para França trabalhar, mas voltou aos 29 e entrou novamente no negócio do qual já tinha tido sete anos de experiência antes de se aventurar além-fronteiras.

Tem cerca de cem cabeças de gado em Parada do Monte, em cerca de cinco hectares de pastagens onde “até as pastagens são diferentes”, e garante que escolhe os animais para garantir melhor produto. Trabalha sobretudo com as raças de carne mais generosas, como a limousine, barrosã, galega e menos com a autóctone, a cachena, por dar menos rentabilidade. Tem ainda porcos e ovelhas. Certamente consegue assegurar a montra de um talho sem sair de Parada do Monte.

Hoje mais calmo no que às viagens diz respeito, mas já foi atento às feiras de todo o país. “Já cheguei a ir a Santarém. Agora fico mais pelas feiras de Ponte de Lima e Póvoa de Varzim. Mas também vou aos lavradores”. 

No momento de escoar, o circuito não é problema. “Vão do matadouro directamente para os talhos de Melgaço, Monção, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca e Caminha. Tenho clientes há 30 anos, que não compram a mais ninguém”, diz-nos Manuel Afonso, garantindo nunca ter tido reclamações.

“Nasci nisto, deixei o estrangeiro para vir aqui, onde casei e onde vivo. É a área que gosto. É trabalhoso mas é a vida”, constata, recordando tempo em quer era de facto difícil criar gado e não havia estradas como hoje. “Na altura que comecei tínhamos de ir com o gado a pé até Pomares pelos caminhos, ou até Paderne, para a feira. Agora tenho transporte próprio, carrego sozinho, levo para o matadouro (de Monção) que a levam dali para os talhos que eu marcar. É tudo mais fácil”.

Hoje assume, com a ajuda do filho, a gestão de um negócio que espera que ainda seja rentável. Pela qualidade.

Carpintaria: Carlos Domingues

Com oficina instalada há cerca de 31 anos em Parada do Monte, Carlos Domingues já atravessou várias tendências de consumo, e talvez o período de consumo de madeiras maciças para mobiliário ou outros não seja hoje o mais expressivo, mas será certamente o mais nobre.

Antigamente, a madeira era necessária para tudo. Talvez por isso, na altura em que instalou e equipou a sua oficina, ainda não havia zonas industriais para organizar as empresas por lotes e arrumá-las num canto próprio. Lançou-se onde pode e não tinha mãos a medir.

“Havia muito trabalho, não se dava conta das encomendas. Fazia aqui em todo o lado e ainda cheguei a mandar para o estrangeiro, para emigrantes naturais de Parada que fizeram casas em França e na Suíça e levavam daqui”, recorda Carlos Domingues.

“Antigamente era tudo em madeira. Já havia madeira prensada, mas as pessoas não iam tanto para essas opções, hoje é que já vão para as lisas e prensadas. É mais barata, mais fácil de limpar. Mas antes fazia-se o mobiliário, cozinhas, esquadrias, o interior das casas”, explica, analisando a questão cíclica das modas.

Hoje é nas casas rústicas que a aposta na madeira ainda se mantém. Além das janelas e portas, são as pequenas oficinas que ficam com os pormenores. “Hoje fazemos mais aquilo que as grandes empresas não conseguem fazer, como os revestimentos de escadas em madeira”.

E numa região vocacionada para o turismo rural, o cuidado na escolha das madeiras faz-se sentir na mesa de trabalho, ou ainda não? “Nas casas da branda da Aveleira, andei um bocadinho nelas todas e no Cando (Arcos de Valdevez), ou a Bouça dos Homens, mas de todas a mais restaurada com madeiras foi a Aveleira”, revela Carlos.

Actualmente tem apenas mais uma pessoa a trabalhar na oficina. Logo agora, que é tão mais fácil encomendar madeira. Talvez o mercado volte a repetir o ciclo e a trazer novamente às madeiras à preferência.

Panificação: Padaria Estrela do Norte

Manuel Nogueira e Rosa Pires abriram o negócio de fabrico e venda de pão há cerca de 20 anos. Ao longo das últimas duas décadas muita coisa terá mudado, até no pão, mas para este casal a receita ainda é a antiga.

Vindos da Suiça, “pensamos em montar um negócio aqui e pensamos numa padaria, que na altura não havia [em Parada do Monte]. Em Melgaço havia três, esta era a quarta. Hoje são muitas mais”.

Hoje vendem em Parada de Monte, Lamas de Mouro, Fiães, Valadares, Riba de Mouro, atravessam um pouco as fronteiras para o concelho e garantem manter a clientela a cativar clientes. “O nosso pão ainda é feito á moda antiga. Sou eu que faço as misturas, não são farinhas compradas com as misturas feitas. A broa e o pão de mistura ainda é como se fazia”, diz Manuel Nogueira.

Entre o fabrico, a distribuição em fronta de quatro carros e a permanência da porta aberta, na padaria e café que mantém aberto no lugar de Carrascal, trabalham oito pessoas ainda que alguns a tempo parcial e em períodos diferentes.

Sobre a manutenção do negócio, agora com a concorrência mais feroz e com frotas capazes de abranger mais área, dizem que o negócio “ainda se vai conseguindo manter, mas já começa a haver menos clientes porque já há menos gente”.

Supermercado: Helena Barreiros

Em 1999 havia, em Parada do Monte, “cinco ou seis” mercearias. “E trabalhávamos todos bem”, garante Helena Barreiros, proprietária do único supermercado aberto naquela freguesia. Já se chamou “Minhoto”, mas hoje é o nome de Helena que se sobrepõe a qualquer outro nome do estabelecimento. Até no talão de compra.

Natural de Cela, mas com o marido de Parada do Monte. Foi ali que quiseram tentar uma qualidade de vida melhor. “Não em termos financeiros, mas de condições e estamos contentes”, confessa Helena.

“Naquela altura [há 18 anos] éramos cinco ou seis, neste momento estamos nos sozinhos. E numa freguesia faz sempre falta um pequeno comércio. Temos a vantagem de ser casa própria, não temos custos de aluguer”, conta. Ainda assim, como se aguenta um comércio local, com a invasão das grandes superfícies e das cadeias de supermercados?

“Tentamos ganhar menos e manter os preços mais razoáveis. Num meio pequeno, se exageramos nos preços, as pessoas pensam duas vezes. Tenho preços equivalentes às grandes superfícies, embora eles tenham produtos que não é possível concorrer, mas procuro ter um bocadinho de tudo e em vez de querer ganhar dez, tento ganhar cinco”, explica.

A proximidade é também o melhor trunfo do comércio local, como explica Helena Barreiros. “Temos proximidade com as pessoas porque nos conhecemos a todos, somos quase uma família, é por isso que eu gosto de viver numa aldeia. Aqui as pessoas são unidas, ajudamo-nos uns aos outros. Eu já sei o que vou comprar porque sei do que as pessoas precisam. E se alguém que está doente, pegamos no carro e vamos levar a casa. As grandes superfícies não fazem isso, aqui”.

Por outro lado, as dificuldades acabaram por facilitar a aposta de quem quer ficar na aldeia, segundo Helena. “Neste momento é mais fácil estar em Parada do Monte do que no centro da vila, os comerciantes do centro da vila se calhar tem mais dificuldades porque tem maiores superfícies ao lado. E não tendo renda para pagar, pessoalmente, é mais fácil manter um comércio numa aldeia do que no centro de Melgaço”, observa.

 

Carpintaria: Cobimape – Carpintarias Lda

conceito de empresa familiar ganha novas nuances quando Manuel Domingues, gerente da Cobimape, nos fala da origem da empresa.

Podendo durar mais de um milhar de anos em floresta, um castanheiro precisará de pelo menos 40 anos para estar pronto para abate. Quando, em 1978, o pai do empresário fundou o negócio de carpintaria, já o avô tinha começado a plantar castanheiros nas coutadas de que era proprietário, em Parada do Monte.

Hoje, muita da madeira nobre que deu prestígio à Cobimape, associando-se aos projectos dos mais conceituados arquitectos nacionais, resulta dessa visão de sucesso das gerações anteriores. A madeira de castanheiro do Norte de Portugal colhe, segundo o empresário, a preferência dos mais conceituados arquitectos nacionais, entre eles João Carrilho da Graça, Nuno Brandão Costa e Eduardo Souto Moura, com os quais a Cobimape já trabalhou.

Vocacionada para a carpintaria de limpos, a Cobimape emprega cinco pessoas em permanência, recorrendo à subcontratação quando os projectos o exigem. Curiosamente, é no Sul do país que a empresa minhota mais trabalha, como explica o gerente, que é também um dos sócios desta empresa familiar. “Setenta por cento da nossa actividade é nos distritos de Portalegre e Beja, porque trabalhamos com o castanho nacional, uma madeira que geralmente no Sul não se trabalha. Alguns arquitectos, como o João Carrilho da Graça, exigem este tipo de madeira típica do Norte de Portugal”, frisa.

Mesmo com trabalho a mais de quinhentos quilómetros da sede, Manuel Domingues assegura que Parada do Monte é o sítio onde quer continuar a basear a sua empresa, a sua vida familiar e os negócios. “É um negócio pequeno mas estável. O nosso propósito não é crescer muito mais, é ter estabilidade, sem recurso a financiamentos, por isso vamos mantê-lo nesta escala, em Melgaço e um armazém no Alentejo, para dar apoio ao trabalho naquela região”.

O trabalho da empresa vai por isso desde o corte da árvore até à peça de mobiliário final. Em Melgaço trabalham para alguns empreiteiros, mas é fora do concelho e até do distrito que tem a sua melhor montra de trabalho em madeira maciça. A utilização de madeira de castanheiro é quase requisito obrigatório na reabilitação de igrejas antigas. Manuel Domingues dá alguns exemplos de recuperações onde a Cobimape teve intervenção. “A Sé de Portalegre, a Sé de Beja e outras igrejas em que os arquitectos exigiram castanheiro nacional do Minho, reconhecem o prestígio do castanheiro minhoto e isto, naturalmente, valoriza uma madeira que já é por si um produto nobre”.

Qual é o mercado do mobiliário em madeira maciça, quando as tendências e a competitividade dos aglomerados tornaram mais acessível a compra de mobiliário e ao mesmo tempo trazer linhas mais urbanas às peças? A resposta surpreenderá os menos atentos aos mercados mais requintados.

“As principais marcas de mobiliário contemporâneo em Portugal, como a Boca do Lobo, usam exclusivamente madeira maciça. Este mercado sempre existiu e terá sempre o seu espaço”.

Nem sempre, ou muito poucas vezes, o carpinteiro é o criativo. Às mãos chegam-lhe desenhos a que tem de dar forma. “Somos quase como um alfaiate”, reconhece Manuel Domingues, cuja empresa já teve de lidar com o rigor dos desenhos que alguns dos mais conceituados arquitectos nacionais. E a peça, tal como no atelier tem de ‘assentar’ bem.

Construção Civil/Climatização: Alves & Judite Lda

Quando, aos 17 anos, o apelo da emigração chamou Justino Mamede Alves para o estrangeiro, cedeu ao impulso de ir ganhar dinheiro longe da sua terra natal. Calhou-lhe a Suiça, país próspero e onde “se ganhava dinheiro”, mas a vontade de Justino puxava-o para o torrão natal. Aos 29 anos voltou a Portugal “a tempo de ver os filhos começarem a Escola Primária cá”. E acabou por ficar.

Constituiu uma empresa (já extinta) com um vizinho, a Alves & Pires Lda, vocacionada para a construção civil e climatização. O sócio capitalizava os conhecimentos de construção civil e Justino Alves na climatização, complementando-se nos projectos que iam assumindo. Ainda durante esse período, abriram uma loja na Rua Fonte da Vila, para exposição e venda de materiais.

Finda a sociedade, onze anos depois, Justino Alves direccionou a nova montra para aquilo que aprendera a fazer bem, mantendo a venda e assistência nos serviços de climatização e a venda de materiais de construção.

Com o fim da parceria anterior, fundou a empresa Alves & Judite Lda em 2002 e em 2009 mudou de instalações para um espaço de exposição com 640 metros quadrados e um armazém de materiais com 400 metros quadrados, a cerca de um quilómetro da vila de Melgaço.

Com a centralização dos serviços perto do centro urbano e o know-how que já tinham no sector, a empresa teve mais facilidade em rentabilizar o seu investimento e está em 2017 em “franco crescimento”.

Em tempos, quando a emigração era mais abastada, a empresa chegou a vender electrodomésticos para o estrangeiro, para os emigrantes que preferiam comprar em Portugal e levar em transportadora. Hoje, os investidores na casa de família são mais cautelosos. “Quem está a fazer a maior parte dos investimentos é aquela geração que está quase a chegar à reforma, dos 50 para cima, e os reformados. Os mais novos já não investem cá, compram lá onde estão”, considera Justino Alves.

Apesar do perfil de cliente ter mudado nos últimos anos, o empresário destaca a preferência da maioria dos compradores por um espaço onde conheça quem vende e possa ter assistência ou apoio em caso de avaria do equipamento. “As pessoas gostam de lidar cara-a-cara com o vendedor”, sublinha.

Para o efeito, a empresa tem um técnico vocacionado para a assistência, contando com um total de sete trabalhadores permanentes, desde o espaço de venda até ao transporte e colocação de sistemas de aquecimento e azulejos.

Apoio Social: Centro Interparoquial e Social do Alto Mouro (CISAM)

Ao longo da última década, o Centro Interparoquial e Social do Alto Mouro (CISAM) prova a cada dia a sua vontade social. Diariamente, uma cozinheira e oito Ajudantes de Acção Directa dão apoio domiciliário aos seus utentes nas freguesias melgacenses de Cousso, Parada do Monte, Gave, Cubalhão, Lamas de Mouro, Castro Laboreiro, em alguns lugares de Paderne e ainda na Gavieira (Arcos de Valdevez).

No entanto, “nada tem de seu”, observa Andreia Morais, Directora Técnica e Assistente Social do CISAM desde 2008. Há quase uma década que este serviço social subsiste em espaços “provisórios” que se foram tornando definitivos.

“O nosso espaço de apoio domiciliário já é provisório há muitos anos. Estou cá desde 2008 e quando cá cheguei tinha sido recentemente adaptado para apoio domiciliário, mas era provisório. Em 2017 continua a ser provisório e o pior é que as condições vão-se degradando, já precisa de obras”, analisa a Directora Técnica.

Quase dez anos depois, poderá o CISAM ver a sua “provisória” situação resolvida? Já veremos.

Diariamente, o serviço de apoio domiciliário percorre oito freguesias de montanha, prestando cuidados vários, desde a higiene pessoal, alimentação, limpeza da casa e tratamento de roupas. Alguns destes serviços são semanais, como o tratamento de roupas ou a limpeza de habitação, mas há casos que precisam de um acompanhamento mais atento. “Há utentes com várias higienes, medicações e pequenos-almoços que é preciso acompanhar”, explica, notando que a equipa é limitada para o serviço que deveria ser feito junto da população que assistem.

“Estas instituições trabalham com o pouco que têm, mas seria bom poder disponibilizar meia hora com cada idoso, porque às vezes as pessoas precisam mais de que se converse com elas cinco ou dez minutos, de um pouco de atenção, do que só levar-lhes a refeição”, nota a Directora Técnica.

Apoiadas por três viaturas “a precisar de reforma”, o Centro assegura diariamente a alimentação a cerca de trinta idosos, além dos restantes apoios necessários a estes e outros utentes. “Cada vez mais devemos de prestar um serviço com qualidade e no caso do apoio domiciliário, é importante ter viaturas adaptadas para que possamos chegar com as refeições com a máxima qualidade possível”.

Com as instalações e parque automóvel quase em fim de ciclo, a notícia de um novo projecto que irá criar de raiz um espaço físico para o centro já não soa a privilégio, mas uma necessidade. O novo projecto, a ser implementado em terrenos da freguesia, prevê a construção de uma estrutura com Residência para Idosos, apoio domiciliário e Centro de Dia.

Uma concretização que permitirá “dar uma resposta mais alargada nas freguesias em que intervimos e no concelho em geral”, refere Andreia Morais, defendendo que os apoios para a área social devem ser ‘pensados’ a longo prazo.

“Dadas as dificuldades financeiras, é fundamental reforçarem-se as instituições que existem no terreno, as que já estão a trabalhar há alguns anos no terreno e que conseguem abranger várias freguesias. Na zona de montanha fomos a primeira instituição a surgir, sempre demos resposta às várias freguesias e nunca deixamos de dar resposta a qualquer uma delas. Sinceramente, antes de se avançarem com novas instituições, tem de se pensar a longo prazo. Vivemos num concelho envelhecido, no longo prazo, qual vai ser a sustentabilidade de todas elas?”, questiona a Directora Técnica.

O surgimento de instituições de cariz social, actualmente dependente de acordos estabelecidos com a Segurança Social e da comparticipação do utente consoante os seus rendimentos, merece mais atenção no momento de analisar a área de acção do projecto, “para não haver repetição de respostas” no mesmo território.

O CISAM, na sua ‘luta’ pelo serviço social nas freguesias montanhosas do Alto Mouro, na serra da Peneda ou em Castro Laboreiro, “faz sentido existir, no contexto em que está”.

Carpintaria/Construção Civil: Cândido Rodrigues

Desde os 17 anos a trabalhar na carpintaria, Cândido Rodrigues, hoje com 47, é da geração que “começou a trabalhar cedo” e a realizar metas também.

Ainda no fim da adolescência, emigrou para a Suíça, onde trabalhou na carpintaria, na preparação e colocação de madeira, por conta de outrem. Quando voltou, o mercado ainda era bom para a construção, mas o ciclo poderá já estar esgotado, à luz da realidade social de hoje, como faz questão de notar. “Ainda se trabalha mais ao menos, mas para as pessoas mais idosas, os mais novos já não constroem aqui”, mas a culpa poderá não ser da geração e sim do paradigma.

“Quando era novo, aos 20 anos, comecei a construir a minha casa. Agora só começam a ganhar aos 30, quando acabam os estudos”, aponta, lamentando no entanto que os jovens de Parada do Monte que a escola reconhece como bons alunos, “acabam por não ficar aqui”.

 Ainda assim, reconhece que a freguesia de montanha está num bom momento “porque tem gente trabalhadora”. “Nós não saímos às seis da tarde do trabalho, e madrugamos bem. Se calhar, como fomos mais escravos do trabalho, talvez ainda tenhamos este hábito. Antigamente fazia falta tudo. Sempre houve bons pedreiros, bons carpinteiros e as terras estavam todas cultivadas”, recorda.

Talvez por toda a experiência, foi ajustando a actividade à tendência do mercado. Começou a trabalhar com a madeira e hoje dedica-se em grande parte à construção civil, por conta própria. “Temos de nos adaptar”.

Neste caso, à construção, essencialmente devido à emigração que está em idade de voltar. “Foi a época de construir cá, depois lá e agora é tempo de recuperar o que tinham construído aqui”, explica Cândido Rodrigues. “Tivemos sorte, quando houve uma quebra na economia do país, praticamente ninguém aqui em Parada sentiu essa quebra. Não sei se se virá a sentir agora, mas até ao momento trabalhamos sempre”.

E se as tendências ou de facto a crise chegar a reflectir-se, Cândido Rodrigues não tem receio em adaptar-se novamente ao mercado ou á área de acção. “Se não houver obras aqui, alargamos a área. Nem que tenhamos de ir até Viana [do Castelo] ou ao Porto fazer obra, mas voltar sempre aqui, a Parada, no fim de tudo”.

João Martinho
(texto publicado na edição impressa do jornal “A Voz de Melgaço”)