Economia para o tempo pós-Covid: Empresários da restauração e vinhos preparam-se para a retoma de 2021


Texto: João Martinho
Imagens dos projectos cedidas pelos proprietários


A tradicional época baixa para o sector do turismo, a que se somam as restrições à circulação e proximidade social devido à pandemia Covid-19, deixou uma pequena margem para os empresários da restauração e produtores de Melgaço se reinventarem a tempo da eventual retoma, que se adivinha para lá do primeiro trimestre de 2021.

Embora em números mais modestos que os já avançados neste jornal a propósito do projecto de revitalização do Hotel do Peso – que só será inaugurado, a cumprirem-se os prazos de execução, em 2022 – os negócios de pequena/média dimensão querem compor-se ou recompor-se entre o leque de propostas que enfrentarão ‘de cara lavada’ o regresso do turismo ao concelho.

 

Restauração: Miradouro do Castelo (Castro Laboreiro)

O restaurante Miradouro do Castelo, no centro da vila de Castro Laboreiro, fecha-se em remodelações até ao início de Abril. Por essa altura já será possível vislumbrar a dimensão das intervenções. O plano, como sugerem as imagens que apoiam este texto e podem também ser consultadas nas redes sociais do restaurante, prevê obras em todo o interior e exteriores. Além da adaptação das duas salas existentes, bar e aumento da cozinha, será criada uma sala nova com 110 lugares, todos com vista para a serra. Vai ser uma sala panorâmica”, explica Paulo Azevedo.

O novo espaço reforçará a componente de almoçar ou jantar ‘na paisagem’ que existia na sala principal do estabelecimento sala panorâmica. A sala interior será adaptada para sala de estar para os hóspedes do alojamento ou os clientes do serviço take-away. O bar que servia de apoio às salas e funcionava com diárias deixará de existir, mas não há espaços mortos ou sem atractivos.

Além de uma garrafeira à entrada, que terá “todas as marcas de Alvarinho existentes na sub-região de Monção e Melgaço, será criado um espaço “entre as duas salas” com a exposição de “todos os produtos que fazem parte da ementa”, que sejam passiveis de exposição, acrescenta ainda Paulo Azevedo. Não haverá por isso uma banca de legumes ou área de frescos para as carnes, mas de produtos como os enchidos, o mel, as compotas, os queijos, entre outros. Não será uma loja, mas uma montra do que pode ser provado á mesa e, se for vontade do cliente, comprar os vários produtos que experienciou uma vez que é intenção da gerência construir uma ementa “composta em 80% por produtos regionais”.

O investimento, na ordem dos 300 mil euros, dividido em duas fases, permitirá desfrutar dos sabores locais e da paisagem característica castreja numa harmonia totalmente nova.

 

Restauração: Tasquinha da Portela (Paderne)

Os produtos locais são o novo atractivo da região e os promotores do concelho no ‘ministério’ dos sabores não estão indiferentes a esta tendência. Filipe Vieira quer que os vinhos do concelho sejam a moldura à sala de visitas que é o seu restaurante, a Tasquinha da Portela, em Paderne.

A partir de 7 de Janeiro começam as obras de remodelação das três salas actualmente disponíveis, submetendo-as a um profundo ‘make-up’ que realçará o ex-líbris da sub-região: As paredes serão na sua maioria revestidas por estantes que ostentarão “todos os alvarinhos de Melgaço (podendo estender-se aos produtores de Monção, assim haja espaço de exposição), apoiados por informativos que darão a conhecer, não só as características do vinho, mas também a sua história e enólogo responsável.

Já à mesa, caberá ao staff ouvir as pretensões do cliente e conjugar da melhor forma as sugestões gastronómicas do menu com a panóplia de vinhos ali à distância de um saca-rolhas.

“Em ano atípico, trabalhar em conjunto traz-nos garantias. Estamos a trabalhar bastante bem e em parceria com os enólogos de Melgaço.  Vamos apostar na remodelação do espaço, para que haja um contacto mais próximo o vinho e a história da adega. Serviço do restaurante recomendará a melhor carne ou peixe que casa com determinado vinho”, explica o proprietário.

“Durante o confinamento percebemos que era preciso isto. Em Melgaço temos o Solar do Alvarinho, mas faltava-nos uma casa que tenha pelo menos todas as marcas de vinho de Melgaço”, considerou Filipe Vieira.

A par da completa e explicativa montra de vinhos, a remodelação em curso transformará o espaço num ambiente mais intimista, de luzes quentes e confortáveis. Os tectos terão outro desenho de luz e pequenos apontamentos que fundem a rusticidade com a modernidade.

“Em tempo de crise, não se devia estar a gastar dinheiro, mas temos de inovar”. A cozinha ganhará mais espaço e as novas condições também espelharão na qualidade que chega ao cliente, sobretudo no reforço da aposta nas entradas e nãos sobremesas, mas também os pratos serão mais elaborados e atentos às novas formas de degustar.

A nova carta e algumas surpresas regressarão em definitivo no início de Março. Até lá, de Janeiro até meados de Fevereiro, o serviço continuará com limitações numa sala provisória até ao dia do fecho para obras na cozinha.

 

Vinhos e enoturismo: Encosta da Capela (S. Paio)

No sector dos vinhos, a vontade de receber bem também não é diferente. José Fernandes, produtor da marca Encosta da Capela, “sempre se recebeu as pessoas na adega” para provar ou comprar vinho.

Há quatro décadas que a família já produzia uvas alvarinhas, mas há cinco anos José Fernandes, formado em Gestão e Finanças, criou marca própria para capitalizar o know-how na gestão e na área da distribuição alimentar em prol de um projecto seu.

Cumpriu já a terceira colheita armazenada nas instalações da adega, emoldurada pelas vinhas de S. Paio e está prestes a terminar a área de recepção de clientes e visitantes.

“Receber as pessoas sempre se fez na adega. Sempre que nos vinham visitar e comprar vinho, mesmo em casa dos meus pais”, reitera, reconhecendo que o novo perfil de visitantes pede um serviço mais cuidado.

“Percebe-se que o mercado está a crescer no que respeita ao vinho, no enoturismo e toda a história que o envolve. Tive a possibilidade de criar as condições para o fazer em instalações junto a uma capela que dá nome á marca. Tudo foi montado a pensar nesta história, porque eu cresci aqui, andei aqui a brincar”, conta o produtor.

Para o turismo com vontade de conhecer para além do vinho, José Fernandes conta a história da capela de meados do século XIX que se diz ter sido feita, assim como o cruzeiro em frente, por um mestre que fez parte da construção do santuário da Peneda e “umas cinco capelas de maior envergadura em Melgaço”.

É por isso “de bom grado” que o produtor prepara as condições para esclarecer o turismo que quer saber como é feito, onde é e em que contexto.

Prestes a inaugurar novas instalações perfilam-se ainda mais duas adegas.

 

Vinhos e enoturismo: Quinta do Regueiro (Alvaredo)

A Quinta do Regueiro, inaugurará em 2021 parte substancial do projecto que implicou um investimento na ordem dos 400 mil euros. A intervenção considerou aumento de instalações, mas é na Sala de Provas com vista privilegiada sobre as vinhas de Alvaredo que está o corolário de todo o trabalho.

O espaço afirma a entrada da marca, já com mais de vinte anos de passos firmes no mundo do vinho, no projecto do enoturismo.

 

Vinhos e enoturismo: Terras de Real (Real/S. Paio)

A marca Terras de Real, entre as mais recentes entradas no mercado, reforçou a experiência no saber fazer, na conservação do vinho mas também no prazer da paisagem para complementar a experiencia do palato.

O novo espaço será também dedicado ao enoturismo e espaço de venda, alargando a potencialidade do edifício para a realização de pequenos eventos, para quem queira assinalar uma data de forma especial, um piso acima das enormes cubas de inox que guardam a mais valiosa matéria prima do território.